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Bernoulli - Pré-vestibular
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O queridinho das escolas particulares

Quando os fundadores do primeiro Colégio Bernoulli decidiram, em 2005, criar um sistema de ensino próprio, a ideia era suprir uma demanda interna - da escola em Belo Horizonte, implementada cinco anos antes. Provavelmente, não imaginavam que, duas décadas depois, teriam criado uma marca atrativa para outras instituições - justamente pelo desempenho no mercado.

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Estudante do Ensino Fundamental Anos Iniciais de Bernoulli segurando um livro, sorrindo enquanto olha para a câmera

Quando os fundadores do primeiro Colégio Bernoulli decidiram, em 2005, criar um sistema de ensino próprio, a ideia era suprir uma demanda interna – da escola em Belo Horizonte, implementada cinco anos antes. Provavelmente, não imaginavam que, duas décadas depois, teriam criado uma marca atrativa para outras instituições – justamente pelo desempenho no mercado.

Em pouco tempo, o chamado Bernoulli Sistema de Ensino se tornou um ativo desejado entre empreendimentos educacionais. Das 10 escolas com maior nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023 na Bahia, três usam o sistema: além do colégio homônimo, o primeiro lugar no estado, estão o Acesso (7º), em Feira de Santana, e o Módulo (10º), em Salvador. Os dados foram filtrados por especialistas da startup AIO Educação e divulgados pelo CORREIO em junho.

Os resultados nacionais também chamam atenção – os dois colégios Bernoulli, de Salvador e Belo Horizonte, ficaram entre os 10 melhores do país. Ao todo, cerca de 90 instituições em toda a Bahia adotaram o modelo. De acordo com o diretor executivo do Bernoulli Sistema de Ensino, Tiago Bossi, o início da procura dos colégios foi orgânico. Em 2007, duas instituições mineiras entraram em contato. Em 2008, o número de parceiras tinha saltado para 21 – hoje, são mais de 900 em todo o país.

“(O sistema) Passa pelo desenvolvimento do conteúdo bem curado, articulado entre as demais disciplinas e equilibrado, porque não pode ter uma falta de alinhamento entre um componente curricular e outro”, diz Bossi. Mas nem tudo que funciona para uma escola funcionará em outra e cada instituição tem liberdade para escolher como adotar. “O Brasil é muito grande e não existe só uma solução A ou B. Tudo que o Bernoulli utiliza que é oriundo do sistema de ensino está disponível, mas cada escola monta o que é aderente a ela”, acrescenta.

O crescimento do Bernoulli Sistema de Ensino faz parte de um contexto maior – o predomínio dos chamados ‘sistemas apostilados de ensino’ (SAEs), em detrimento dos tradicionais livros didáticos, em todo o Brasil. O termo ainda é utilizado hoje, mesmo que os sistemas não incluam apenas apostilas e módulos.

Mercado

Ainda que existam desde o início dos anos 1930, impulsionados por cursinhos pré-vestibulares paulistas devido à implementação da Universidade de São Paulo (USP), os SAEs alcançaram o auge nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que têm vantagens como a rapidez na atualização dos conteúdos, os SAEs são ponto de atenção de pedagogos e pesquisadores em geral, devido à falta de uma legislação específica.

Na avaliação do pesquisador Ivair Fernandes, que estudou sistemas apostilados de ensino no mestrado e no doutorado, as apostilas são mercadorias e, portanto, marcas educacionais se consolidam da mesma forma que outras empresas – investindo em marketing e conquistando novos mercados.

“É prática comum em escolas particulares, só para citar um exemplo, a concessão de bolsas de estudos a partir do desempenho acadêmico com intuito de fidelizar os melhores alunos que potencialmente serão aprovados em colocações louváveis em grandes universidades. Em resumo, o que atrai as instituições para determinado sistema apostilado é mais o desempenho de mercado do que aspectos pedagógicos”, pondera ele, que é professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

As próprias famílias dos estudantes começam a se interessar pelos resultados – daí, aprovações em vestibulares e destaques no Enem se tornam um aspecto ainda mais importante no viés mercadológico. Segundo o pesquisador Edimar Silva, doutorando em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), o viés mercadológico está relacionado à expansão das escolas privadas.

A partir dos anos 2000, há, inclusive, um avanço dos sistemas entre as escolas públicas municipais. No entanto, ele reforça que, ainda que se use módulos, não se deve descartar a estrutura didática da escola.

“A organização e a estrutura curricular são extremamente importantes e vão além do sistema de ensino. Ele é uma das peças. Acredito que índices bons resultam de uma proposta curricular muito clara de gestão da escola, porque não há material didático que dê conta se não tiver bons professores. O risco principal disso é esquecer a essencialidade do professor, dos gestores escolares e de conhecer os alunos”, pondera.

Didática

Os livros didáticos tinham um problema objetivo, antes da criação do Bernoulli Sistema de Ensino. Diretor executivo das unidades escolares do Bernoulli, Marcos Raggazzi lembra que, ainda que fossem os mais conceituados do mercado, era comum que estivessem defasados. Levavam, em média, de três a cinco anos para serem atualizados. Os módulos e materiais feitos por eles, contudo, passam por atualizações anuais.

“Outra coisa é que eles trabalhavam apenas operações mentais básicas dos alunos. Quando você pega os exercícios do livro, tinha perguntas como ‘quem, quando, onde, resolva, justifique’. A gente começou a desenvolver questões que trabalhavam operações mentais superiores, como ‘induzir, deduzir, extrair, correlacionar, julgar, criar”, argumenta.
Segundo Raggazzi, documentos educacionais internacionais e teorias educativas modernas serviram para nortear o modelo. Há desde a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) até os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

O Bernoulli Sistema de Ensino chegou à Bahia no início dos anos 2010, em instituições do Sul do estado – antes mesmo de existir uma escola com este nome por aqui, já que o Colégio Bernoulli de Salvador só foi implementado em 2016. Na escola, ao longo do Ensino Médio, um estudante chega a fazer mais de 20 simulados – a maioria no terceiro ano, quando eles substituem boa parte das provas tradicionais.

“Na terceira série do ensino médio, temos também uma série de programas e materiais didáticos para quem vai tentar vestibulares específicos. Um aluno que quer fazer Bahiana de Medicina vai ter uma atividade que chamamos de treinamento de questões discursivas, por exemplo. No segundo semestre, temos um curso e um material específico para alunos que querem fazer vestibulares estaduais paulistas”.

O número de aulas semanais depende da idade. Na educação infantil, por exemplo, são 30 horas por semana. Já no terceiro ano do ensino médio, são 42 aulas semanais. Quando novos professores são contratados, o treinamento começa até um ano antes. “Nós inauguramos a educação infantil em Salvador esse ano, mas já tínhamos contratado os professores no ano passado, para que eles conhecessem todas as ferramentas e soubessem utilizá-las de forma adequada”, acrescenta.

Adaptação

Aluna do terceiro ano do Colégio Bernoulli, a estudante Maria Eduarda Lino, 17 anos, está na instituição há dois anos, mas já usava os materiais didáticos desde os anos finais do ensino fundamental, quando ainda estudava no Módulo.
“Antes de conhecer o sistema de ensino, o material didático que eu usava não tinha essa coisa da explicação no próprio material. Se eu tinha alguma dúvida no livro em casa, precisava recorrer a outra pessoa. Desde o 6º ano, temos o Bernoulli Play, que tem as resoluções com os professores explicando em vídeo”, conta.

Para Maria Eduarda, as avaliações mais focadas em simulados foram uma motivação para estudar mais. “Não posso mentir e dizer que não é uma rotina densa, mas ela responde muito à necessidade. Existe uma motivação grande para acompanhar o que os professores ensinam”, completa ela, que pretende cursar Relações Internacionais em alguma universidade de São Paulo.

Adquirido pelo grupo Bernoulli em 2015, o colégio Módulo manteve a marca e os projetos da instituição, que eram tradicionais em Salvador. Desde 2016, usam o mesmo sistema de ensino, como explica a diretora do Módulo, Ana Cristina Calfa. Antes, adotavam livros didáticos de editoras variadas. “Não tinha uma unidade metodológica. Como a gente trabalha a pedagogia de projetos, ficava muito mais difícil fazer com que os conteúdos dialogassem entre si”.
A transição não foi totalmente simples, mas, para ela, era natural por ser uma nova forma de trabalhar. “A partir do momento que se conseguiu entender que os conteúdos são densos, mas consolidados, atualizados e atuais, isso traz para o aluno e para o professor uma satisfação”.

Uma vez com a nova opção metodológica, Ana Cristina acredita que foi mais fácil ajustar necessidades como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de uma forma que os conteúdos façam sentido para os alunos. “Quando o material dá possibilidade de dar protagonismo aos alunos, o trabalho fica mais interessante e prazeroso para eles”.

Parceiras

Hoje, as cerca de 900 escolas parceiras no Brasil são atendidas por um time de assessoria e consultoria composto por mais de 100 pessoas, sem contar equipes de produto e comercial, de acordo com o diretor executivo do Bernoulli Sistema de Ensino, Tiago Bossi. “Para você se manter no mercado, precisa ter uma logística para entregar livros em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, mas também preciso entregar em Catu, na Bahia, e Xinguara, no Pará. Tem que chegar na mão do aluno da maneira correta e a escola tem que receber toda a preparação adequada”.
Redes públicas de outras localidades já fizeram contato, mas, até então, expandir a metodologia para além da rede particular não é o objetivo. Na Bahia, a procura de escolas privadas pelo sistema aumentou depois da chegada do colégio do grupo.

“Nosso foco está 100% dedicado ao ensino privado. Em relação aos concorrentes, é um mercado de boas empresas, bons materiais. Mas a gente consegue se destacar endereçando de maneira muito assertiva o que nosso público demanda – e isso se traduz nos materiais, na tecnologia e na nossa assessoria e consultoria”.

Em Salvador, uma das primeiras escolas a implementar o Bernoulli Sistema de Ensino foi o Colégio Marízia Maior, ainda em 2011. Com 40 anos de existência, a instituição começou focada nos livros didáticos, como a maioria das escolas. Depois, usaram outros sistemas de ensino, como Positivo e SEB, por períodos curtos, até conhecer o Bernoulli em uma feira de educação. “É um parceiro verdadeiro porque dá abertura para que a gente sugira algo, observe. Por outro lado, tem todo um material muito focado em aprovação e preparação”, avalia a diretora pedagógica da escola, Marízia Maior.

Um dos pontos positivos, para ela, é o fato de não ser um pacote fechado e ter linguagem fácil para os alunos. “A transição, na época, foi melhor do que imaginávamos, até porque o suporte fez diferença. A gente escolheu (o pacote) a partir das necessidades de cada turma”.

Já o caso da Fundação José Carvalho se destaca por se tratar de uma instituição sem fins lucrativos. Ao todo, são seis escolas – seis delas em Pojuca – que usam o Bernoulli Sistema de Ensino desde 2021. Antes disso, as instituições usavam livros didáticos e outra metodologia. “A decisão pelo Bernoulli se deve à qualidade da proposta pedagógica e dos recursos didáticos e tecnológicos, analisados previamente pelo grupo de educadores da fundação. A implantação não foi fácil, já que aconteceu na pandemia, em um cenário complexo, com aulas remotas e híbridas, dificultando todo o processo”, conta a diretora de educação da entidade, Rosely Gomes Machado.

A dificuldade principal, na avaliação dela, foi adequar algumas propostas pedagógicas às especificidades da rede, principalmente para as escolas rurais que têm pedagogia de alternância. Nesse método, os alunos intercalam 30 dias na escola e 30 dias em casa – nesse segundo período, são acompanhados por professores itinerantes. Ao todo, são 3,8 mil alunos nas séries do ensino fundamental até o ensino médio ou técnico.

A pandemia também trouxe desafios, já que o sistema foi adotado em meio ao período de distanciamento. “Destacamos a qualidade da proposta pedagógica, módulos didáticos, formação para educadores, avaliações de aprendizagens, cursos e intercâmbios oportunizados, além de consultoria”, completa.

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